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Meu Segundo Oboé

publicado em terça-feira, 3 de novembro de 2015
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Os Oboés da Marca TH Poppe Dresden

Meu segundo oboé foi um TH POPPE Dresden.

Quando o comprei, faltavam as chaves esquerdas do grave e estava sem condições de tocar. Fiquei triste ao ver o estado que o instrumento se encontrava, mas como não tinha condições de comprar um instrumento melhor, faria dele o meu instrumento principal de estudo. Este instrumento estava guardado em um armário de uma pessoa que trabalhava numa banda por muitos anos.

Ao saber do meu interesse em estudar oboé, resolveu "desenterrá-lo" e vendê-lo. Tinha agora em minhas mãos um instrumento com a mecânica dos oboés modernos, porém como faria para consertá-lo?

Num final de semana fui a São Paulo para encontrar alguma oficina de instrumentos que me trouxesse aquele oboé de volta à vida. Tinha uma indicação de uma oficina na rua dos Andradas e para lá me dirigi. Fiquei muito triste quando o técnico nem quis pegar o instrumento alegando desconhecimento em manutenção de oboés e que no estado que estava não valia muito a pena gastar com ele. Depois de peregrinar por outras oficinas indicadas pelo pessoal da rua dos Andradas, cheguei a uma oficina no bairro de Santana e finalmente consegui uma indicação de que uma pessoa poderia resolver meu problema, tratava-se de um luthier de clarinetes no bairro do Brás, Sr. Dante Marchetti, já um senhor de uma idade avançada que havia tocado oboé na antiga orquestra da Rádio/TV Gazeta em São Paulo.

Depois de dois meses fui chamado para experimentar o instrumento consertado e tocando. Este instrumento me serviu durante três anos, antes de eu comprar um oboé profissional. O oboé TH POPPE não foi para mim um grande instrumento, devido ter ficado muito tempo parado e ter sido feito uma manutenção rápida, não houve muito progresso. A mecânica estava muito comprometida, antiga e sem lubrificação há muito tempo. Era sistema de oitavas automáticas com muita mecânica e muito ajuste. Penei com ele por longos três anos sem muito progresso nos estudos.

No final de 1987 ele já não produzia muito e fui obrigado a levá-lo novamente para manutenção, nesse meio de tempo já estava guardando dinheiro para comprar um instrumento melhor. Durante os anos que toquei o oboé Poppe nenhuma informação sabia a respeito dessa marca alemã, corria ainda os anos da antiga Alemanha Oriental, onde Dresden era situada, havia pouca informação sobre fábrica de instrumentos musicais naquela região.

Após o advento da internet passei a pesquisar mais sobre esta marca e da mesma forma, pouca ou quase nenhuma informação pude coletar. Achei um relato de uma mulher que herdara um oboé TH Poppe de seu avô e fazia algumas perguntas num site especializado, mas estava em alemão. Com muito custo consegui que alguém traduzisse o texto para mim como segue:

"A única informação que posso te dar sobre o fabricante do instrumento Theodor Poppe, de Dresden, que ele está listado na Lista de Endereços de Paul de Wit do ano de 1912 como fabricante de Instrumento de Sopro de Madeira e a fábrica dele deste ano estaria no Wolfsgasse 5H em Dresden. Também no índice de New Langwill, uma enciclopédia de fabricantes de instrumentos de sopro, não se encontra muito sobre Theodore Poppe.

O período das obras dele é por volta de 1887-1930, em 1929 ele deve ter passado a firma para o falecido Heinrich Pinder (1913), ou aparentemente para sua viúva. Ainda em 1940 a empresa Poppe aparece na Lista Endereços de Instrumentos Musicais na rua Kaulbach 29. Depois a fábrica mudou-se mais vezes, em 1925/1926 encontrava-se na Rua Johannes 17, antes de 1900 a firma, aliás, não era listado em Lista de Endereços.

A empresa Poppe foi destruída após o bombardeio de 13 Fevereiro de 1945. Esta informação eu agradeço a meu antigo professor Carlo Reissig, que até 1953 atuou como oboísta em Dresden, depois foi para Rostock. Sr. Peter Fischer, oboísta da Casa Concerto em Leipzig, tocou até anos 1970 tal instrumento. Este instrumento tinha som excelente devido aos seus bonitos tons. Infelizmente ele não era, na entonação, muito comparável com os instrumentos modernos, também hoje não é mais utilizado em Orquestras."

Procurei mais alguma informação sobre a marca, sem sucesso.

Comentando com o Pastor Ziel a respeito do artigo que colhi na internet, ele ficou interessado no assunto e já tinha o contato de certa pessoa na Alemanha que possuía um oboé TH Poppe, que ele conseguiu comprar e trazer ao Brasil para a sua coleção. O instrumento de posse do Pastor Ziel é peculiar pois é uma mistura do sistema vienense com o sistema tradicional em uso na Alemanha de então, mais tarde em meados do século XX, o Sistema Triébert foi adotado nos oboés alemães.

Pesquisando os leilões online na internet percebo que os oboés TH Poppe tem uma boa procura por parte de colecionadores. Um interessante oboé que vi foi um que era uma mescla do Sistema 3 de Triébert com as características físicas do Sistema Simples com balaústre no corpo superior e de uma madeira mais clara, um lindo oboé. Infelizmente por falta de experiência deixei escapar o oboé Poppe das minhas mãos numa negociação mal feita. Também era um instrumento peculiar, havia o tradicional rolete na chave de fá, mas era o único que vi com roletes para facilitar as passagens de dó, dó#, mi bemol no grave, porém dava ao instrumento uma aparência estranha, mandei retirá-los por ocasião da primeira manutenção, o que infelizmente tirou sua originalidade.

Até hoje monitoro os leilões online e não vi um instrumento similar ao que eu tive.





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