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Outros Instrumentos de Palheta Duplapublicado em segunda-feira, 18 de maio de 2015( Nenhum comentário: enviar um comentário! )
A família do sarrusofone é desconhecida nos dias de hoje. O surgimento do sarrusofone nos meados do século XIX foi para suprir uma demanda de instrumentos para uso em bandas militares, rezava a lenda que o oboé e fagote não eram apropriados para esta função. Bandas militares eram muito populares no século XIX para que pessoas que não tinham condições de frequentar salas de concerto pudessem desfrutar de boa música. O repertório de tais bandas eram geralmente marchas, música popular e folclórica, pot-pourris de aberturas de óperas, arranjos de concertos e sinfonias populares.
A popularidade de bandas militares vinha de longo tempo e mesmo antes que se conhecessem oboés e fagotes, eram utilizados dulcians e pommers e alguns instrumentos de metal como trompa e trumpete. Após o advento do oboé e fagote barroco, estes instrumentos foram adaptados para a função, embora alguns estudiosos defendiam que oboé e fagote não eram instrumentos apropriados para uso militar ao ar livre (provavelmente reforçados pelos argumentos ardilosos de Adolphe Sax para introduzir seus instrumentos). Este argumento tornou-se mais forte após a invenção do saxofone, quando Adolphe Sax havia ganho a concorrência de fornecimento de instrumentos para as bandas militares francesas, abolindo o uso de oboés, fagotes e clarinetes, substituindo-os por instrumentos de sua fabricação.
Após a queda do rei Louis Philippe da França em 1849, o primeiro ato do novo governo foi derrubar o monopólio estabelecido por Sax, os instrumentos que tinham sido abolidos retornaram ao uso, mas ainda tinham que seguir um manual editado em 1848, Manuel Générale de Musique Militaire, editado por Georges Kastner que padronizava o uso de alguns instrumentos de sopro para bandas militares. O debate foi acalorado e mesmo assim o uso de instrumentos de palheta dupla foi reduzido nas bandas. Alguns “novos” instrumentos foram admitidos como o serpentão e o ophicleide.
Algumas bandas militares mantinham fidelidade a alguns fabricantes que lhes davam melhores condições de preço para o fornecimento de certas famílias de instrumentos, porém já havia uma demanda maior por instrumentos que executassem o baixo, os disponíveis eram incipientes ou de técnica ainda rudimentar. O uso de instrumentos de metal a válvula era escasso devido o sistema ainda não ser confiável.
Sax aproveitou para introduzir instrumentos de sua invenção como o então recém inventado saxofone e o popular sax-horn, porém adquiriu muitos inimigos entre os fabricantes de instrumentos musicais franceses devido a rápida difusão de seus instrumentos e do decreto do governo que impunha seu monopólio de instrumentos para banda. Pierre-Louis Gautrot (?-1882) era um desses desafetos de Sax e rapidamente juntou-se a Pierre-Auguste Sarrus(1813–1876), e desenvolveram um novo instrumento de palheta dupla, baseados em oboé e fagote, porém construídos de metal e com chaves do sistema desenvolvido por Theobald Boehm e, para que emitissem uma maior potência sonora do que seus relativos de madeira, foram fabricados com um corpo de conicidade maior. A intenção era boa, porém as dificuldades de dedilhado e tonalidades diferentes dos instrumentos que o originaram fizeram com que o “novo” instrumento inventado, que havia sido batizado de sarrusophone não tivesse êxito. Gautrot havia patenteado o instrumento em 1856, dez anos após seu rival Sax patentear o saxofone, que apesar de todas as artimanhas de Sax, gozava de uma incipiente popularidade em bandas militares, o saxofone por sua vez só viria se popularizar já no século XX por volta dos anos 1920 quando houve o surgimento de grandes bandas de jazz, lugar onde está perfeitamente adaptado. O lançamento do sarrusofone forçou Adolphe Sax a justiçar Sarrus e Gautrot acusando-os de ter copiado seu invento, porém Sax perdeu em todas as instâncias. O sarrusofone teve um pequeno sucesso inicial, logo vindo ao esquecimento devido suas deficiências, mas um fato relativamente curioso, principalmente devido ao patriotismo, o contrafagote era um instrumento ainda rudimentar e de difícil execução (foi aprimorado definitavamente por Heckel em 1877) era mais difundido na Alemanha, o sarrusofone contrabaixo então adaptou-se rapidamente nas orquestras sinfônicas francesas como o contrabaixo do fagote. O sarrusofone contrabaixo gozou de alguma popularidade e foi fabricado nos Estados Unidos pela Conn nas primeiras décadas do século XX, nos dias de hoje as partes escritas para sarrusofone contrabaixo são executadas pelo contrafagote.
Igor Stravinsky (1882-1971), utilizou o sarrusofone contrabaixo em sua peça Threni para solistas, coro e orquestra, Stravinsky preferiu o uso do sarrusofone para enfatizar a acentuação rítmica em combinação com o piano, segundo ele o fá# tocando forte soa melhor do que o contrafagote no mesmo registro. Em 1978 o compositor alemão Hans-Joachim Hespos (1938) compôs uma peça combinando alguns instrumentos pouco conhecidos como o sarrusofone soprano, heckelfone e uma variação do clarinete em lá chamado de tarogato.
O sarrusofone foi fabricado nas seguintes tonalidades:
sopranino em mi-bemol, soprano em si-bemol, contralto em mi-bemol, tenor em si-bemol, barítono em mi-bemol, baixo em si-bemol, os sarrusofones contrabaixos eram fabricados em dó, si-bemol e mi-bemol.
Sarrusofone baixo e contrabaixo do Museu de Instrumentos Musicais do Conservatório de Bruxelas - Bélgica O Rothphone Uma outra variação de instrumentos de palheta dupla e corpo metálico era conhecida na Itália nos fins do século XIX e chamava-se Rothphone, teria sido idealizado por um luthier de Milão por nome de Ferdinando Roth (1815-1898), que estampava seus instrumentos como A.M. Bottali Milano. Roth havia projetado um instrumento metálico de palheta dupla com corpo e dedilhado semelhante ao do saxofone, literalmente um “sax de palheta dupla”, porém com um corpo um pouco mais delgado do que seu relativo de palheta simples, o baixo do rothfone era conhecido na Itália por contrabasso ad ancia, ou contrabaixo de palheta e era muito difundido nas bandas italianas, alguns autores referem-se a ele como saxosarrusofone, uma mistura de saxofone com sarrusofone (em vida Adolphe Sax, jamais admitiria um nome como este, ambos foram rivais confessos na arte de fabricar instrumentos musicais de metal). Na minha opinião pessoal, preferia que este instrumento tivesse se popularizado mais do que seu similar de palheta simples.
Família de Rothphone: Da esquerda para a direita: Soprano em Sibemol Contralto em Mibemol Tenor em Sibemol Barítono em Mibemol Instrumentos fabricados por volta de 1900 por A.M. Bottali - Milão - Itália Vídeos ilustrativos: Vídeo 1: Comparação do som do Contrafagote com o som do Sarrusofone contrabaixo. Vídeo 2: Um duo de sarrusofone contrabaixo e dois contrafagotes tocando a belíssima Amazing Grace, hino 106 no hinário da Congregação Cristã no Brasil. Vídeo 3: Demonstração do timbre do Rothfone barítono, nota-se que devido ao corpo metálico mais delgado, não há muita variação de timbre para o seu similar de palheta simples o saxofone barítono. Vídeos relacionados:Envie o seu comentário:Quer comentar no Facebook? Então clique aqui.Comente no Facebook: |