A Semelhança Harmônica entre o Som do Oboé e do Violino

A Harmonia entre o Oboé e o Violino

Hoje dia 30 de abril comemora-se o aniversário da minha filha Ana Raquel, assim como escrevi na postagem anterior sobre meu filho, é muito mais que filha, é uma amiga. Hoje sua paixão é por carros, particularmente seu Fusca 1969, mas nutre também paixão pelo violino. Quando tinha 12 anos proferiu uma palestra sobre oboé na escola fundamental, a partir de um texto escrito por mim que foi a pedra fundamental deste site.

Vídeos ilustrativos com peças da música clássica no final do texto.

Aprecio o violino, mas não tenho muito conhecimento sobre este instrumento que é a base de toda a orquestra, sem cordas, não existe orquestra, a família do violino, como está escrito na literatura especializada, é a espinha dorsal da orquestra e consiste em quatro instrumentos: o violino que é o soprano, a viola clássica (não confundir com viola caipira que é outro instrumento de outra classe), que é a voz do contralto, o violoncelo é o tenor e baixo e o contrabaixo atua como baixo e contrabaixo.
O violino descende das antigas rabecas que eram instrumentos rudimentares de cordas friccionadas, mas tinham um som áspero e não muito agradável. Na forma que o conhecemos hoje, um instrumento bonito e de uma sonoridade agradável e bela, surgiu a partir dos séculos XVII e XVIII nas mãos de verdadeiros mestres artesãos que deram ao violino sua atual forma clássica. Estes mestres viveram em Cremona na Itália, onde a arte da luthieria já estava evoluída na época, a maneira de fabricar violinos expandiu-se pela Europa e pelo mundo, eram geralmente ateliers familiares que procuravam servir os músicos próximos, as mais famosas são: Stradivarius, Amati e Guarnieri.
Assim como o oboé e o fagote, o violino é um instrumento de difícil aprendizado, por não ser um instrumento temperado (instrumento que emite a nota exata a partir de uma posição em chave ou teclado) o violinista deve ter um excelente ouvido para afinar a nota na sua posição correta pois no braço do violino não há marcações ou trastes como no violão.
O som é produzido pela fricção do arco sobre cordas afinadas numa certa nota, sendo a mais grave a de sol e as seguintes são, ré, lá e mi, o músico “busca” a posição da nota desejada apertando a corda contra o espelho, peça de madeira colada ao braço do violino. O arco que produz a fricção nas cordas, é composto de muitas crinas de cavalo ligadas juntas onde se aplica o breu que os violinistas passam no arco antes de tocar e tem a função de melhorar o atrito entre o arco e as cordas aprimorando a sonoridade.
Como o violino é um instrumento completo, atua em conjunto e como solista, muitos compositores dedicaram a ele concertos, quartetos e sonatas, que hoje são famosos e fazem parte de qualquer repertório que um violinista profissional deve conhecer, os mais executados são os de Vivaldi que era violinista e dedicou ao violino muitas de suas composições, inclusive a mais famosa, As Quatro Estações, Bach que também tocava violino compôs vários concertos, Mozart também dedicou ao violino muitos concertos e Divertimentos. Um dos mais famosos é o de Mendelssohn, cujo o Allegro final é muito bonito. No concerto para violino de Brahms, há um belo solo de oboé que introduz o Adágio,  introdução esta que torna este concerto muito famoso. Há alguns estudiosos que afirmam que o concerto para violino de Beethoven era na verdade um concerto para oboé que ele transcreveu para o violino e a partitura original foi perdida, e o que sobreviveu é conhecido como concerto para violino.

SONORIDADE e HARMÔNICOS

A minha intenção de estar explanando sobre o violino num site para oboé, é que ambos muito tem em comum, pode se dizer que o oboé é um violino de sopro, tal a semelhança entre seus sons, tanto o violino como o oboé produzem em seus timbres muitos harmônicos (frequências múltiplas que se formam a partir de uma fundamental, somando múltiplos inteiros, gerando um complexo espectro de frequências), daí a beleza de seus respectivos sons. Por ser o oboé um instrumento com timbre semelhante ao do violino, por muito tempo, os oboés tocavam dobrando com os segundos violinos, ou seja “reforçava” o naipe das cordas.
Existe uma figura com a forma de onda produzida pelo som do violino e do oboé, publicado num fascículo de Teoria Musical da Open University que enfatiza essa teoria e segundo Dinah Barshan em seu FUNDAMENTOS FÍSICOS DA MÚSICA, cada instrumento tem seu próprio conjunto de harmônicos que faz com que seu timbre seja distinguido mesmo sendo tocada a mesma nota em instrumentos diferentes, em particular o terceiro harmônico proeminente confere um som caracteristicamente penetrante, os oboés por exemplo, produzem mais som nesse harmônico do que na própria frequência fundamental da nota, embora esta ainda seja ouvida como fundamental.
“O oboé, insinuou-se no princípio do séc XVIII como instrumento de sopro ideal para dialogar com uma orquestra de cordas pelo timbre pastoral e pela tessitura próxima do violino“ (retirado de um artigo sobre música de câmara na década de 80).


Forma de onda de um violino e um oboé tocando a nota lá em 440Hz, notar que são ondas complexas
carregadas de frequências harmônicas

Vivaldi, dava ao oboé, um tratamento “violinístico”, dificultando em certas passagens, a respiração do executante. No autógrafo das “Quatro Estações” há uma inscrição, do próprio Vivaldi: “Também pode ser executado com oboé ”. Esse grande mestre entendia muito bem essa semelhança, embora na sua época os estudos de acústica ainda não tinham sido publicados. Há algumas composições onde o autor combina muito bem estes dois instrumentos formando um lindo espectro sonoro, há um concerto para oboé, violino, duas flautas doce e um fagote no baixo contínuo de extrema beleza e harmonia sonora. Bach também nos deixou um interessante concerto duplo para oboé e violino onde podemos perceber que a intenção do grande Mestre era mostrar o virtuosismo dos solistas.
No início dos meus estudos de música, pensei em aprender violino, por apreciá-lo. Cheguei a comprar um violino 3/4 que estava num bom preço na época, na intenção de iniciar meu filho com o violino, o que veio a acontecer mais tarde, porém fui obrigado a comprar um violino 1/4 para ele poder começar pois seus braços não alcançavam o maior. Este mesmo violino 1/4 serviu para a minha filha tocar suas primeiras notas, depois ela fez algumas aulas de piano e parou definitivamente com a música. O violino 1/4 vendi para uma família que precisava de um instrumento desse tamanho. O violino 3/4 troquei por um clarinete antigo e este por um oboé antigo que eu almejava há algum tempo, meu F. Lorée 
de 1910. Quando vim morar em Santa Catarina, meu apartamento foi assaltado, por ocasião de uma viagem, lembro a grande preocupação da minha filha quando me ligou perguntando onde estava meu oboé antigo, por sorte estava tão bem guardado que não foi subtraído, na ocasião era o único oboé que eu possuía.


Uma coleção de respeito: Um quarteto completo, todos fabricados
por Antonio Stradivarius

Vídeos Ilustrativos:

Vivaldi:  Concerto para oboé, violino, flauta doce, cordas e contínuo RV576 com Filarmônica de Berlim com Albrecht Mayer tocando oboé.

Bach: Concerto para oboé, violino, cordas e contínuo BWV 1060, o vídeo é da Bach Society de Amsterdam, uma orquestra de instrumentos originais que já gravou toda a obra de Bach.

Haydn: Sinfonia Concertante para oboé, violino, fagote e violoncelo em Si bemol maior, uma peça onde reunem quatro dos meus instrumentos prediletos e demonstra com exatidão a semelhança entre seus timbres, conforme comentado neste artigo e no anterior sobre o fagote.


 

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